As leis vigentes, os levantamentos populacionais sobre o consumo de substâncias, o cenário socioeconômico e as evidências científicas disponíveis foram revisitados. A Política Nacional de Drogas (PNAD) se tornou a nova lei de drogas em 2005. Considerada de vanguarda até hoje, a PNAD “jazia na gaveta”, pois a Saúde discutia a lei, a Justiça decidia sobre internação e a Assistência Social, dizia que o problema era da Saúde. 

Em função desse desvio de competências, a articulação entre as medidas preventivas, assistenciais e de controle da oferta de drogas não aconteceu, o que produziu um descompasso entre a sociedade e os governos.

Até 2010 a família brasileira acreditava que para controlar o acesso dos adolescentes às drogas bastava ter leis e receber informação nas escolas, e que o melhor tratamento era a internação. Desinformada, não assumia seu papel de agente de prevenção, nem percebia a evolução do uso até a dependência, uma doença crônica, do cérebro, grave, que se não for tratada é fatal. 

A bebida alcoólica e o cigarro de tabaco antes, e agora também a maconha, se transformaram em um portal de fácil acesso na adolescência, fato corroborado pelos estudos. Novas drogas chegaram ao “mercado”, e o adolescente, cada vez mais cedo na vida, se torna um usuário de múltiplas substâncias. Dados da Universidade Federal de São Paulo em parceria com o Governo Federal, mostram que para cada dependente de drogas ilícitas, existem quatro pessoas afetadas de forma devastadora, são 30 milhões de brasileiros.

A miopia do Governo parece ter diminuído, e a sociedade não está às cegas diante da questão, mas o lobby de grupos ligados às indústrias das drogas, lícitas ou ilícitas, interferem na adoção das políticas, dividindo instâncias governamentais, como vive-se hoje, a parte de prevenção em um ministério, a parte de tratamento em outro, financiando organizações sociais para legalizar todas as drogas, como se fosse um produto qualquer, e repetindo que nenhuma política funcionou, o que não é verdade.

A legalização do porte para consumo próprio, como se esse ato não atingisse o entorno, é o primeiro passo da flexibilização. Depois descriminaliza-se o "pequeno tráfico", em seguida, o uso "medicinal", o recreativo, que termina pela legalização de todas. A cada ponto dessa linha, a percepção de risco da população de 15 a 25 anos vem diminuindo e o consumo aumentando. 

Diante de tudo isso, a pauta e o debate devem ser mantidos: O direito de não usar drogas e de não ser sujeito de políticas cindidas, como se as drogas ilícitas fossem mais nocivas que as lícitas, não está sendo honrado. A indústria e seus grupos de interesse têm dirigido a cena, adotando estratégias ambivalentes e gerando mais confusão.

A indústria da bebida alcoólica e do cigarro de tabaco ganharam muitas batalhas, mas uma coalisão internacional pela preservação da vida trouxe uma convenção quadro para o tabaco que tem reduzido suas consequências nos países que a adotaram.

Os brasileiros não querem legalizar mais nenhuma droga, tem clamado por respeito às famílias, e estão dispostos a criar uma convenção quadro para o álcool. E para que isso aconteça a PND precisa avançar.